terça-feira, 20 de abril de 2010

Turismo virtual em 3D


Por sugestão da seguidora Mariana Dias, estou postando a coluna de Ethevaldo Siqueira do dia 17 de abril no Estadão.


"É uma experiência emocionante. Aliás, a mais fascinante que tive em toda a cobertura deste NAB Show 2010, em Las Vegas, na semana passada: assistir a um filme de 40 minutos produzido em pleno espaço cósmico, a bordo do telescópio espacial Hubble, com a tecnologia de cinema digital 3-D Imax.

Imagine, leitor, sua sensação se você estivesse no Hubble, a quase 600 quilômetros de altura sobre nosso planeta e pudesse ver imagens tridimensionais nas mais belas cores do que foi captado pelo telescópio espacial, com uma nitidez absoluta e projetadas em uma imensa abóbada esférica sobre sua cabeça. Além das centenas de galáxias, quásars, aglomerados de milhares de estrelas e corpos celestes que jamais pensaríamos poder ver, tudo isso está ali, diante de nossos olhos, como uma visão do Universo, num gigantesco planetário em 3D.

Não satisfeito, peguei a fila mais duas vezes para rever esse documentário único no NAB Show. Vivi e revivi uma experiência que até aqui nem sequer havia sonhado: contemplar aquela imensidão que só o Hubble é capaz de mostrar-nos com os olhos tecnológicos das lentes de suas super câmeras – que alcançam até algumas galáxias a mais de 10 bilhões de anos-luz da Terra.

E uma coincidência: o Hubble vai completar 20 anos daqui a alguns dias, pois entrou em órbita no dia 25 abril de 1990. O telescópio dá uma volta em torno da Terra a cada 97 minutos, a quase 600 quilômetros de altitude e a uma velocidade de 29 mil km/hora. De lá também pode ser observada a Terra com uma nitidez incrível.

Pois bem, a tecnologia que me mostrou esse cenário está criando uma nova forma de turismo: o turismo virtual em 3D. Como é esse novo turismo?

Em lugar de embarcar num avião, passar por todos os trâmites burocráticos e de segurança, inspeções e aborrecimentos, viajar apertado por 10 ou 12 horas num avião com pouco conforto, chegar a Nova York ou Paris, desembarcar, repetir todos os procedimentos e, finalmente, alojar-se num hotel, com o corpo moído e o horário de sono deslocado de alguns fusos horários – em lugar de passar por tudo isso, você terá apenas que escolher sua poltrona predileta, diante do home theater e acionar o controle remoto.

Sente-se e relaxe. Sem sair de casa, sem risco de acidente, guiado por especialistas cultos e simpáticos, e comece sua visita aos lugares mais bonitos do planeta. Pelo preço de um Blu-ray 3D, você poderá conhecer as pirâmides do Egito, a Acrópole de Atenas, o Everest, as ruínas de Machu Pichu (sem enchentes), as muralhas da China ou o Grand Canyon. Pode contemplar paisagens de Júpiter, embrenhar-se na floresta amazônica ou do planeta Pandora (do filme Avatar), mergulhar no Lago Baical, dar a volta ao mundo e ver a aurora boreal.

A moderna tecnologia da informação está recriando o mundo, de forma virtual, mostrando uma nova face de todas as coisas. Com recursos de multimídia e computação, desfrutaremos da maravilhosa ilusão das viagens de sonho — sem nenhuma dependência, sem contra-indicações, a preços módicos.

Aliás, é preciso reconhecer que só uma minoria privilegiada — a rigor, menos de 5% da população da Terra — pode, teoricamente, viajar pelo mundo e desfrutar suas maravilhas turísticas. Apenas 7% da população dos Estados Unidos, a nação mais rica do planeta, têm passaporte e, portanto, podem conhecer os lugares mais belos e interessantes fora de seu país.
O turismo virtual, agora em 3D, mostrará o mundo àqueles 93% ou mais da população de cada país que não poderão jamais viajar para a Europa, a Ásia, a África ou a América Latina – para conhecer suas belezas. Será a democratização do prazer de conhecer os lugares mais belos do mundo. Mesmo os que já viajam e fazem turismo presencial poderão rever ou mesmo conhecer dezenas ou centenas de lugares aonde não poderão jamais visitar.

Com o turismo virtual 3D, centenas de milhões de pessoas passarão a contar com essa nova forma de lazer e entretenimento cultural, vivendo novas aventuras pelo mundo a fora. E tudo com ângulos e detalhes que só o turismo virtual pode oferecer, graças à tecnologia digital.
E mais: com o desenvolvimento de novos recursos de realidade virtual e da interatividade, você pode escolher os caminhos a percorrer dentro do Palácio de Versalhes, o Museu do Ermitage, em São Petersburgo, ou contemplar Atenas do alto da Acrópole.

Os equipamentos ou recursos que nos levarão pelo mundo afora já estão praticamente desenvolvidos. O que nos falta ainda é abundância de conteúdo. Uma das tendências é a do sistema de capacetes e óculos individuais. A outra é, praticamente, a evolução dos home theaters, sistemas que combinam som surround e vídeo digitais dos Blu-rays 3D com telões gigantes. A rigor, ninguém pode sentir o impacto do turismo virtual se não utilizar, no mínimo, uma tela com 3 metros de diagonal, o que significa quase 120 polegadas.

O turismo virtual pode combinar entretenimento e cultura como poucas atividades. Lembro-me de ter testemunhado um caso oposto, de turismo cultural presencial, não-virtual, quando um professor de História Antiga, de Paris, levou seus alunos a Roma, para dar aulas em pleno Coliseu ou no Fórum Romano. Foram aulas magníficas. Mas uma experiência elitista."

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