terça-feira, 30 de março de 2010

Inovação reversa

Na Exame online de 03 de março saiu a seguinte matéria: Dos pobres para os ricos

Empresas como GE e Microsoft invertem a lógica tradicional na qual a criação de novos produtos globais se concentrava apenas em países desenvolvidos. É a era da inovação reversa.

Entre os mais de 2 500 produtos lançados pela General Electric nos Estados Unidos no ano passado, poucos foram tão ansiosamente aguardados pelos executivos da companhia quanto o Mac 800, uma máquina de ultrassom cinzenta, compacta e nada charmosa, cujo design lembra um aparelho de fax. O interesse do alto escalão da GE pela máquina não se devia a seu visual absolutamente sem graça ou à tecnologia sem segredos, e sim à forma como ela foi desenvolvida. Entre as mais de 20 000 patentes registradas desde a fundação da companhia, em 1892, por Thomas Edison, essa foi a primeira a inverter o caminho tradicional da inovação. Por mais de um século, a GE se acostumou a espalhar pelo mundo as inovações criadas em seu centro de pesquisa localizado em Niskayuna, no estado de Nova York. O Mac 800, porém, trilhou um caminho radicalmente diferente. Criado em 2002 pela subsidiária chinesa da GE sob medida para o paupérrimo sistema de saúde do país, o aparelho passou agora a ser vendido no mercado americano como uma alternativa prática e barata para atendimentos de emergência em ambulâncias.

A inversão é tão simbólica que o indiano Vijay Govindarajan, consultor de inovação da GE e professor da escola de negócios Tuck, considerou-a o mais bem acabado exemplo de uma nova etapa da globalização — a era da "inovação reversa". Para Govindarajan, o modelo tradicional de inovação, no qual os países ricos criam produtos para vender aos pobres, funcionou bem numa época em que os mercados em desenvolvimento não eram tão atraentes. Como se sabe, o cenário mudou. O crescimento de Brasil, China e Índia e a recente crise internacional deixaram claro que hoje as maiores oportunidades estão nos mercados emergentes. O próximo passo na ascensão da importância desses países no xadrez global é criar produtos com potencial para se tornar sucesso em todo o planeta. "Os dias em que só os países ricos inovavam ficaram para trás", disse a EXAME Govindarajan, que deve lançar um livro sobre o tema em agosto nos Estados Unidos.

ALTERAR O FLUXO DA INOVAÇÃO é um trabalho complexo e caro. Um dos primeiros requisitos é investir pesado em centros de pesquisa locais. A GE construiu seus primeiros centros de inovação em mercados emergentes em 2000, na China e na Índia. Desde então, injetou quase 100 milhões de dólares por ano apenas na unidade chinesa, que hoje possui 14 000 cientistas (cerca de 38% da equipe de pesquisadores no mundo). O foco das pesquisas é a área de saúde, que se tornou especialmente promissora depois que o governo chinês anunciou investimentos de 123 bilhões de dólares na remodelação do setor no país. "Sem um time de pesquisadores locais, que entendam a dinâmica do mercado, fica muito difícil investir nos produtos certos", diz o brasileiro Marcelo Mosci, presidente da área de equipamentos médicos da GE na China. O próximo país a receber um centro de inovação é o Brasil. A construção vai começar ainda em 2010 e as atenções estarão voltadas para pesquisas nas áreas de energia eólica, gás natural e etanol. "Somos a aposta da companhia para encontrar soluções em energias alternativas que podem interessar também a outros países", diz Rafael Santana, presidente da área de energia da GE na América Latina.

A GE não é a única a perceber que o Brasil pode se tornar uma plataforma de exportação de inovações na área de energia. As americanas Delphi, fabricante de autopeças, e Agco, uma das líderes globais na produção de tratores e colheitadeiras, estão entre os adeptos da inovação reversa.

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